No desfile de 2007 do Gigantes da Lira, um trio de mulheres vestidas apenas com toalhas de banho chamou a atenção dos foliões ali presentes. As Enxutas, como se autodenominaram, foram com suas armaduras de banho para o carnaval carioca e fizeram sucesso pelos três anos seguintes, quando o grupo chegou a ter oito integrantes vindas “direto do banho”.
O carnaval é a época do ano onde é permitido tudo o que seria ultrajante em tempos normais. Imagine sair por Laranjeiras em maio, digamos, e topar com uma mulher enrolada em uma toalha de banho, como se tivesse acabado de sair do chuveiro. Seria inaceitável! Mas graças aos cinco dias de folia, Cristina Sarquis (jornalista), Maria Lúcia Bueno (economista) e Beatriz Alvarez (analista de sistemas) – as Enxutas – conseguiram realizar o tal feito e, ao invés de desagradarem o público, fizeram sucesso absoluto nas ruas do Gigantes da Lira.
A ideia começou com a mãe de Cristina, Maria Ignez, há 41 anos, no Rio de Janeiro da década de 70. Na época, a roupa feita de toalhas poderia ser vista como indecente até durante o carnaval. E foi exatamente o que Cristina, com 14 anos então, pensou consigo mesma: “Eu lembro que fiquei chocada com aquilo. Nossa, minha mãe vai assim para o baile?!”. Maria Ignez usou a fantasia para curtir o Baile do Bola Preta na época, mas foi algo tão inesperado pela filha – ciente de que a mãe não era muito fã de carnaval – que quatro décadas depois Cristina foi buscar inspiração naquelas toalhas.
“Eu me lembrei disso e falei ‘gente, vamos sair de toalha!’”, conta a jornalista, explicando como propôs a ideia para as amigas. Maria Lúcia – que topou logo de cara o desafio – conta rindo como surgiu o nome Enxutas: “Era um bando de ‘coroas’, né? Daí começamos a brincar ‘ah, a gente tá muito bem’ e então eu pensei no duplo sentido do termo Enxutas”, diz, fazendo referência à boa forma física do trio e ao fato de usarem as toalhas. Assim, o grupo de amigas que se conheceu por morarem em Laranjeiras, perto umas das outras, lançou uma das fantasias coletivas mais divertidas do bloco.
Nos três anos seguintes, as Enxutas voltaram a brilhar na Rua General Glicério. Em 2010, o grupo de “coroas” casadas chegou a ter oito integrantes. Cristina conta que todos os anos apareciam candidatas se oferecendo para sair com elas, mas ser uma Enxuta não era tão fácil quanto imaginavam. De acordo com ela, havia regras a serem seguidas: “Não podia colocar nada curto; não podia aparecer nada por baixo, como alcinha ou algo do tipo; tinha que ter toalha na cabeça e no corpo e por aí vai… Teve um ano que a gente colocou até spray de espuma pra fantasia ficar mais verdadeira”. Maria Lúcia lembra que a amiga ainda inventou um esquema que segurava a toalha no corpo, à prova de acidentes. “Não pegávamos simplesmente uma toalha e amarrávamos. E se alguém chegasse e puxasse? Olhando de longe parecia só uma toalha, mas tinha botões por dentro que prendiam a fantasia no nosso corpo”, explica.
Apesar do medo natural, elas contam que nunca houve nenhum momento constrangedor ou situação desagradável nos desfiles. Muito pelo contrário. “O bloco tem um clima muito bom e respeitoso, né? A gente ouvia umas brincadeiras, mas sempre respeitavam, nunca aconteceu nada do tipo”, conta Cristina. Maria Lúcia vai mais longe e se lembra da época com orgulho e felicidade: “Foram meus 15 minutos de fama, nunca fui tão fotografada na vida!”, brinca.
Quem também gostou do desfile das Enxutas e assistiu a isso tudo foi Dona Maria Ignez, a responsável por aquilo estar acontecendo. “Ela viu tudo do alto da janela e adorou! Dava tchauzinho, amou a ideia…”, conta Cristina. A “Rainha das Enxutas” não sabia na época, mas foi graças a sua coragem de mais de 40 anos atrás que o Gigantes da Lira pôde se divertir com um dos grupos mais memoráveis do bloco.